Programa de Renovação de Frota no Brasil: Por que não funcionou como prometido?

Proposta buscava incentivar autônomos e reduzir veículos
antigos nas estradas, mas enfrentou entraves financeiros, burocráticos e
operacionais. Entenda o que aconteceu — e o que o Brasil pode aprender com
outros países.
Com mais de 900 mil caminhões com mais de 30 anos circulando
pelas estradas brasileiras, o Programa Renovar surgiu com a missão de
modernizar a frota nacional, priorizando transportadores autônomos. A promessa
era ousada: retirar caminhões antigos de circulação, reduzir acidentes e
emissões, e facilitar a troca por modelos mais modernos.
Mas, passados quase dois anos da criação da lei que
instituiu o programa, os resultados decepcionam — especialmente para quem mais
precisava dele.
O que era para acontecer?
Criado pela Lei nº 14.440/2022, o Programa Renovar
ofereceria incentivos fiscais e bônus financeiros para que caminhoneiros
entregassem seus veículos antigos para desmontagem e, com isso, adquirissem
caminhões mais novos — inclusive seminovos.
A prioridade seriam os autônomos e cooperativas, público que
representa boa parte da frota circulante, mas enfrenta dificuldades históricas
de acesso a crédito e financiamento.
E o que aconteceu de fato?
Apesar do discurso promissor, o Renovar acabou beneficiando principalmente
grandes frotistas e empresas. O programa esbarrou em diversos entraves:
- Crédito
inacessível para autônomos, que muitas vezes não conseguem comprovar renda
formal;
- Orçamento
mal aproveitado: dos R$ 1 bilhão disponíveis, menos de 30% foram
utilizados até meados de 2023;
- Excesso
de burocracia nos processos de baixa e desmontagem de veículos;
- Vigência
inicial curta da MP que criou o programa, sem tempo hábil para
massificação entre os pequenos transportadores.
Exemplos pontuais ocorreram, como a parceria entre Gerdau,
Volkswagen e Vamos, que resultou na compra de 100 caminhões com mais de 20 anos
de uso para destruição. Mas ações como essa estão longe de representar uma
mudança estrutural.
Números da frota usada no Brasil
Segundo dados do setor, o Brasil possui cerca de 3,5 milhões
de caminhões registrados:
- 26%
da frota tem mais de 30 anos (cerca de 900 mil veículos);
- 500
mil caminhões têm mais de 25 anos;
- Entre
os autônomos, a idade média dos veículos é de 22 anos;
- Mais
de 54% da frota nacional tem mais de 13 anos de uso.
Esses números mostram a urgência de uma renovação mais
efetiva, especialmente diante dos riscos ambientais e operacionais que uma
frota envelhecida representa.
O impacto da frota velha na saúde e no meio ambiente
A permanência de caminhões antigos nas estradas afeta não só
o transporte, mas também a qualidade de vida dos brasileiros:
- Um
caminhão fabricado antes de 2012 emite até 20 vezes mais poluentes do que
um modelo atual;
- Esses
veículos contribuem para mais de 60% do material particulado inalável nas
cidades;
- Os
efeitos vão desde asma e bronquite até câncer de pulmão;
- Além
disso, aumentam o risco de acidentes e os custos com manutenção urbana.
E o que outros países fizeram melhor?
México
Desde 2004, o governo mexicano oferece bônus de até US$ 20
mil para sucateamento voluntário de caminhões com mais de 15 anos. Resultado:
mais de 60 mil veículos substituídos.
China
A substituição de caminhões antigos é obrigatória em muitas
cidades, com prazos definidos e subsídios de até US$ 25 mil. Resultado: mais de
1 milhão de caminhões renovados em 5 anos.
Alemanha
O país criou linhas de crédito especiais para pequenos
transportadores e exige que o veículo novo seja menos poluente (Euro 6 ou
elétrico). Resultado: frota média com menos de 9 anos de idade.
Conclusão
O Programa Renovar é, sem dúvidas, uma ideia necessária e
urgente para o Brasil. Mas, sem correções de rota, corre o risco de ser mais um
projeto que não saiu do papel.
É preciso:
- Tornar
o programa permanente por lei;
- Garantir
financiamento real aos autônomos;
- Reduzir
a burocracia de adesão;
- Incentivar
o mercado de seminovos;
- E
criar metas nacionais de renovação, como fizeram México e China.
A renovação da frota não é apenas uma pauta econômica. É uma
questão de segurança, saúde pública e futuro.
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