Caminhões elétricos: a Europa avança, o Brasil observa — o que esperar desse futuro?

26/06/2025
Caminhões elétricos: a Europa avança, o Brasil observa — o que esperar desse futuro?

Falar sobre caminhões elétricos deixou de ser um exercício de futurologia. Na Europa, esse futuro já está sendo carregado nas baterias de centenas de veículos comerciais pesados, rodando diariamente em entregas urbanas e operações logísticas. Como especialista do setor de transporte, venho acompanhando de perto essa transição energética e percebo com clareza os avanços, os entraves e o que isso tudo pode significar para nós, aqui no Brasil.

Europa: eficiência energética e metas sustentáveis

Na União Europeia, políticas ambientais severas e incentivos governamentais têm sido fundamentais para acelerar a eletrificação da frota pesada. Grandes transportadoras, como a Tielbeke na Holanda, vêm ampliando seus pedidos de caminhões 100% elétricos, como os novos modelos da Scania. Isso não é marketing verde — é uma resposta direta à meta europeia de neutralidade de carbono até 2050.

Do ponto de vista operacional, os caminhões elétricos europeus já provaram sua eficiência:

  • Redução de até 90% das emissões de CO₂, quando abastecidos com energia de fontes renováveis.

  • Economia de manutenção: menos peças móveis, menos desgaste.

  • Desempenho silencioso: ideal para entregas noturnas urbanas.

  • Aceleradores responsivos e condução confortável, com torque instantâneo.

Porém, nem tudo são flores. O continente enfrenta desafios como a autonomia limitada (média de 250 a 350 km), tempo de recarga ainda elevado e infraestrutura de recarga insuficiente fora dos grandes centros urbanos. Além disso, o custo inicial de aquisição de um caminhão elétrico ainda é, em média, 2 a 3 vezes maior que um diesel equivalente — embora o TCO (custo total de propriedade) venha caindo.

E o Brasil? Dá pra seguir esse caminho?

Sim, mas com ressalvas. O Brasil ainda enfrenta uma série de obstáculos estruturais. Não temos uma malha energética estável em todas as regiões, e os corredores verdes (postos com recarga rápida para pesados) ainda estão em fase piloto.

Além disso, o perfil do transporte rodoviário brasileiro é outro:

  • Longas distâncias intermunicipais e interestaduais.

  • Dependência de veículos com grande autonomia.

  • Predominância de transportadoras pequenas ou autônomos, que não conseguem bancar investimentos altos em tecnologias novas.

No entanto, vejo sinais positivos. Modelos como o Volkswagen e-Delivery, 100% nacional, já circulam em operações urbanas no Sudeste. Algumas grandes empresas de logística vêm testando frotas elétricas para entregas de última milha — e têm relatado economia operacional e imagem positiva junto ao mercado.

Além disso, a energia elétrica no Brasil é majoritariamente limpa, oriunda de hidrelétricas — o que nos dá uma vantagem ambiental natural se comparado com países que ainda usam carvão, por exemplo.

O que falta?

Falta incentivo. O Brasil precisa de políticas públicas claras, isenções fiscais, linhas de financiamento específicas e, principalmente, planejamento de infraestrutura de recarga pesada. O transporte elétrico precisa sair da agenda de nicho e entrar como pilar estratégico nacional.

Se isso ocorrer, podemos sim trilhar esse caminho europeu com as devidas adaptações. Não será uma cópia, mas uma versão tropicalizada e eficiente, pensada para as nossas distâncias, realidades e necessidades.


Como especialista, deixo uma provocação: vamos continuar importando a inovação ou começaremos a produzi-la? O setor de transportes brasileiro tem criatividade, força e capacidade. Cabe agora dar os próximos passos — com estratégia, investimento e vontade política.


Redação: Sandro Strada [SS]²

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